"Que é uma jornada de trabalho?" De quanto é o tempo durante o qual o capital pode consumir a força de trabalho, cujo valor diário ele paga? Por quanto tempo pode ser prolongada a jornada de trabalho além do tempo de trabalho necessário à reprodução dessa mesma força de trabalho? A essas perguntas , viu-se que o capital responde: a jornada de trabalho compreende diariamente as 24 horas completas, depois de descontar as poucas horas de descanso, sem as quais a força de trabalho fica totalmente impossibilitada de realizar novamente sua tarefa. Entende-se por si, desde logo, que o trabalhador , durante toda a sua existência , nada mais é que força de trabalho e que , por isso, todo o seu tempo disponível é por natureza e por direito tempo de trabalho , portanto, pertencente à autovalorização do capital. Tempo para a educação humana , para o desenvolvimento intelectual, para o preenchimento de funções sociais , para o convívio social , para o jogo livre das forças vitais físicas e espirituais , mesmo o tempo livre de domingo- e mesmo no país do sábado santificado- pura futilidade! [...] Em vez da conservação normal da força de trabalho determinar aqui o limite da jornada de trabalho é , ao contrário, o maior dispêndio possível diário da força de trabalho que determina, por mais penoso e doentiamente violento, o limite do tempo de descanso do trabalhador. O capital não se importa com a duração de vida da força de trabalho. O que interessa a ele, pura e simplesmente , é um maximum de força de trabalho que em uma jornada de trabalho poderá ser feito fluir. [...] A produção capitalista , que é essencialmente produção de mais-valia , absorção de mais-trabalho, produz , portanto, com o prolongamento da jornada de trabalho não apenas a atrofia da força de trabalho, a qual é roubada de suas condições normais , morais e físicas, de desenvolvimento e atividade. Ela produz a exaustão prematura e o aniquilamento da própria força de trabalho. Ela prolonga o tempo de produção do trabalhador num prazo determinado mediante o encurtamento de seu tempo de vida.
-Marx, Karl. O Capital: Crítica da Economia Política. São Paulo: Abril Cultural, 1983. V.1.p. 211-2.
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